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Mindfulness e sua Contribuição para uma Vida Saudável .

Foto do escritor: Cibeli Brandão PsicólogaCibeli Brandão Psicóloga

O conceito de estresse ou stress tem origem na Física, sendo entendido como o grau de deformidade que uma estrutura sofre quando é submetida a um grande esforço. A partir desse conceito Selye (1970) define o estresse como um conjunto de reações gerais que os seres vivos desenvolvem frente a situações que exigem esforço para a adaptação. O estresse psicológico representa uma ruptura no equilíbrio psicofisiológico do indivíduo, que diante de uma determinada situação é impelido a mudar, a adaptar-se a uma nova realidade, mesmo que seja positiva. Essa ruptura produz alterações gerais e inespecíficas (Síndrome Geral da Adaptação) e também especificas, exigindo adaptação ao estressor.

Os estressores podem ser classificados em “biogênicos” ou externos, que são situações e eventos intrinsecamente estressantes, não dependem da interpretação e atuam automaticamente, como por exemplo, frio, fome, calor, acidentes, doenças, profissão; e estresssores psicossociais ou internos, que é tudo o que faz parte do mundo interno, das cognições de um indivíduo, seu modo de ver o mundo, seu nível de assertividade, suas crenças, seus valores, suas características pessoais, seu padrão de comportamento, suas vulnerabilidade, ansiedade e seu esquema de reação à vida.

No Brasil os trabalhos mais conhecidos para o Controle de Estresse são os de Marilda Lipp. As propostas de Lipp baseiam-se nas de Lazarus e Folkman (1976) e enfocam o coping e manejo de estresse que tem como objetivos auxiliar o cliente a desenvolver e programar estratégias para modificar sua interpretação cognitiva dos eventos estressores, emitir respostas apropriadas às situações estressoras, aprender a conviver com o estressor que não pode ser modificado para aumentar sua qualidade de vida. Selye (1936) descreveu 3 fases do estresse (alerta, resistência e exaustão) e Lipp introduziu uma outra fase: quase exaustão. Nas fases de resistência e quase exaustão aparecem sinais do estresse e na de exaustão surgem os sintomas (adoecimento por estressse).

Neme e Lipp (2010) ressaltam os efeitos imunossupressores do estresse e seus efeitos na gênese de diversas doenças e, especificamente, neste trabalho, sobre o câncer.




MINDFULNESS

“Mindfulness” pode ser traduzido como “Atenção Plena”. Designa um estado mental, um conjunto de técnicas ou exercícios mentais (“Meditação Mindfulness”), programas de treinamento baseados em “Mindfulness”, ou ainda um conceito psicológico.

Aprender a lidar com emoções é um motivo que leva muitas pessoas a procurarem auxílio da psicologia. Dentro do contexto dessa necessidade, o conceito de mindfulness ganhou destaque nas terapias comportamentais e cognitivas nas últimas duas décadas. O mindfulness é muito praticado pelos terapeutas ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso). Faz parte da chamada "terceira onda" das terapias cognitivo-comportamentais e oferece uma série de ferramentas clínicas para que se tenha consciência da evitação, promovendo a aceitação e a tolerância a eventos emocionais aversivos. Assim, o intuito seria “aceitar o que não se pode mudar e comprometer-se com o que é possível mudar” (Savoia; Vogel, 2010).


A prática do mindfulness não tem cunho religioso, embora muitas destas técnicas estejam baseadas na tradição espiritual milenar budista. Encontradas em diversas tradições culturais, religiosas e filosóficas, as técnicas e práticas de “Mindfulness” (“Meditação Mindfulness”), e também outras práticas ditas contemplativas ou meditativas, têm sido cada vez mais integradas na prática clínica contemporânea, principalmente na psicologia e medicina.

Esse tipo de intervenção tem sido bastante estudado cientificamente, e seus benefícios podem ajudar pessoas com os mais elevados níveis de estresse. e formas de adoecimento. Nos últimos anos um grande número de autores e pesquisadores, entre eles o médico americano Jon Kabat-Zinn e os psicólogos americanos Marsha M. Linehan e Steven C. Hayes, vêm se dedicando ao trabalho de oferecer para a meditação um referencial teórico científico, possibilitando assim seu uso terapêutico independentemente da conceituação religiosa budista e abrindo sua prática para um público mais amplo. A pesquisa mais recente oferece indícios de que uma série de terapias baseadas na atenção plena podem ser bem sucedidas no tratamento de dores crônicas , em sintomas de ansiedade e depressão, de estresse e de comportamento suicida recorrente.

A eficácia e a efetividade das Intervenções Baseadas em “Mindfulness” para a promoção da saúde têm sido estudadas em uma variedade de populações, incluindo pessoas com diagnósticos de câncer, ansiedade, depressão, dor crônica, cardiopatias, e outros transtornos relacionados ao “estresse”; bem como em indivíduos considerados saudáveis, profissionais, estudantes da área da saúde, atletas, entre outros, com níveis elevados de “estresse“.


Alguns resultados: significativas mudanças comportamentais, como por exemplo aumento da concentração, diminuição da agressividade e principalmente uma considerável redução do estresse.


OBSERVAÇÃO

Embora seja divulgada como uma técnica "nova", a "atenção plena" já vem sendo utilizada há anos, com outra denominação, como se pode constatar, por exemplo, numa obra de John O. Stevens, de 1971, chamada "Tornar-se presente: experimentos de crescimento em gestalt-terapia, traduzida para o Português por Maria Julia Kovács e George Schelesinger (Editora Summus, São Paulo, 3a ed., 1977).

REFERÊNCIAS

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Bibliografia Complementar

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